Lux Interior by Claudia Fernandes
Hoje acordei com uma idéia na cabeça. Na verdade, não sei se era uma idéia ou um desejo.
Levantei, entrei no banho, tomei café, me arrumei e saí.
A idéia-desejo continuava lá, na minha mente.
No carro, mesmo ouvindo música, ela estava lá.
Visitei uns lugares, tirei umas fotos, voltei, tomei outro banho, almocei, escrevi algumas coisas e saí para a faculdade. Ela ainda estava lá, teimosa, latente.
Resolvi analisar e tentar entender essa idéia que não me deixou em paz durante um dia inteiro. Idéia que na verdade se convertia num desejo intenso.
Pensei que seria muito bom parar de falar de repente. Não por problema de mudez, de maneira forçada. Não. Mas conscientemente. Voluntariamente.
Alguém perguntaria: Mas por quê?
Porque as palavras geralmente causam mal-entendidos terríveis.
Tenho me indagado: Para que falar? Para que usar as palavras, se temos o olhar, por exemplo, e outras formas de comunicação tão eficazes quanto?
Boa pergunta, taí a questão fundamental desse texto.
Fazendo uma analogia a esse panorama tão atual do Brasil, pode-se dizer que as palavras são armas. Partindo do ponto de que um dos argumentos do “SIM” é o fato de que desarmando as pessoas, estas não teriam uma arma disponível na mão num momento de raiva ou de paixão extrema, e por esse motivo menos mortes aconteceriam, logo por que não comparar as armas às palavras?
Num momento de raiva ou de irracionalidade, as palavras soltam à boca de forma desordenada, impensada, e o que é pior, de um jeito que geralmente só servem para ferir e matar algum sentimento outrora precioso.
Pois depois de pensar sobre isso, cheguei a uma conclusão que pode ser considerada por alguns muito ingênua ou simplista, mas que agora me faria um bem enorme. Parar de falar seria um alívio.
Prefiro o mundo da escrita. Esse mundo solitário, quieto, de paz, de tormento, mas meu e só. Aqui não preciso de um interlocutor obrigatório. No caso de ninguém ler o que eu escrevo, ainda assim escrevi algo, por que no fim escrevo para mim mesma, para desabafar, para expressar sentimentos, não para alcançar alguém, ou para ser importante ou interessante para outra pessoa, mesmo que isso aconteça vez por outra. Logo não corro o risco de ferir ninguém. E isso me alivia tremendamente.
A palavra falada pode ferir.
Ela pode se transformar em uma calúnia.
Em uma mentira.
Em uma maldade.
Em uma ofensa.
Em um desacato.
Em uma intriga.
Em uma inveja inconsciente.
Em uma arma em si.
E se esse aparato bélico nas mãos de pessoas mais experientes já costuma ser maléfico, para algumas pessoas imaturas, se torna um perigo real e evidente.
Portanto, elas devem ter humildade para se reconhecerem como tal, saber ouvir o mais experiente, perceber que estamos todos sempre aprendendo com os mais velhos e sábios(sabedoria essa que só é trazida pela idade sim), e a partir daí, construir uma experiência mais sólida e aplicável para a vida.
Desejaria muito me calar, mas queria também que algumas pessoas parassem de falar por algum tempo, assim não teria que lidar com comentários tolos que se transformam em armas que ferem.
Por isso, minha sugestão é que se, por acaso, algum dia, alguém ler essas mal traçadas linhas, tente perceber esse devaneio meu, e procure pensar antes de falar qualquer coisa para o outro abruptamente, porque isso pode estar fantasiado de arma, de uma arma letal.Bjo.
"With no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
Silent silence."
Música: No Surprises do Radiohead.