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Comecei a escrever no momento em que percebi que só pensar não mais me satisfazia.
Precisava transbordar todo aquele pensamento que só ao meu universo de idéias pertencia.
Hoje, escrevo por pura necessidade, por irresistível vício e por agradável teimosia.
Claudia Pinelli Rêgo Fernandes ®
terça-feira, dezembro 17, 2013
Vade retro, satana!
quinta-feira, setembro 19, 2013
Lei não é a mesma coisa de Justiça!
Não podemos confundir Justiça com lei.
Nem toda lei é justa ou legítima.
Lembremos de que até mesmo regimes de exceção se basearam em leis que os legitimavam, mas nem por isso puderam ser consideradas justas.
Se quisermos que a Justiça prevaleça, é preciso que leis melhores e mais justas sejam elaboradas.
Se quisermos que o Supremo (e que pelo menos aqui a justiça seja feita, é formado por um colegiado bem preparado e experiente, que precisa fundamentar os julgamentos e votos em princípios e leis materiais e processuais geralmente já estabelecidas, e que neste caso específico do mensalão, mostrou um equilíbrio louvável, uma vez que foram seis votos a favor dos embargos e cinco contra), julgue da melhor forma possível os casos que chegam até ele, precisamos fazer a nossa parte: votar melhor!
O problema não é o Supremo!
Sim, porque as leis nas quais esses doutos magistrados se baseiam para fundamentar seus votos já existem e foram criadas pelo Legislativo e não pelo Judiciário. Além do que nada ali deve ser julgado pura e simplesmente, de forma particular e arbitrária. E creio eu, com a minha mais pura ideologia, que esses homens não maculariam suas honras por questões políticas ou partidárias, até porque seus votos constarão dos autos "ad perpetuam rei memoriam".
Portanto, antes de reclamarmos da (in)justiça cometida, tomemos consciência de que a responsabilidade disso é somente nossa. E que, nas próximas eleições para o Legislativo, escolhamos votar em pessoas comprometidas com as questões do povo, que tenham ideias para melhorar a nossa vida como um todo e não a de uma pequena parcela da população.
Claudia Fernandes.
quarta-feira, fevereiro 10, 2010
Da minha precoce nostalgia
quarta-feira, novembro 25, 2009
Mudanças
sexta-feira, outubro 09, 2009
Gentileza gera gentileza
Gentileza gera gentileza
A mais subestimada das virtudes humanas faz muita falta no mundo
Vivo num prédio em que boa parte das pessoas não dá bom dia. Nem mesmo um grunhido. Nada. Fora o resto. Na semana passada, abrimos o porta-malas do carro para retirar as compras do supermercado, bem ao lado do elevador. Duas mulheres puxaram a porta antes que conseguíssemos alcançá-la, para não ter de dividir o elevador. Puxaram a porta, porque se ela tivesse fechado naturalmente teria dado tempo de entrarmos. Dá para acreditar? Claro que dá. Volta e meia cruzo no pátio, indo ou vindo, com gente que vai ou vem – e abaixa rapidamente a cabeça para não cruzar os olhos e, então, ser obrigada a me cumprimentar. Essas pessoas não me conhecem, nem sabem se sou bacana ou chata, logo, não é pessoal. Até o zelador, cujas atribuições incluem dar bom dia, só cumprimenta quando está de bom-humor.
Então, aconteceu.
Aquele vizinho, em especial, me irritava muito, porque ignorava solenemente meus sonoros bom-dia e boa-noite. Ele simplesmente passava por mim – e por todo mundo – numa marcha militar, olhos fixos em alguma movimentação de tropas no campo adversário. Eu voltava da minha aula de pilates, na manhã de quarta-feira, toda alongada e saltitante, quando o vi avançando em passadas largas na minha direção. “Bom dia!”, eu disse. Nada. Grilos. Cri, cri, cri.
Aquilo me irritou muito. Mas muito mesmo. Não pensei. Simplesmente me virei, marchei mais rápido do que ele, postei-me na sua frente e gritei: “Bom dia! É importante dar bom dia para as pessoas!”. Ele ficou totalmente desconcertado. E o resto eu não vi, porque marchei direto para o elevador, num passo tão marcial como o dele.
Foi uma cena totalmente absurda. Eu fui absurda. Até é possível reivindicar boa educação – embora seja cada vez mais difícil. Mas é impossível exigir gentileza. E não é nada gentil obrigar alguém a ser gentil. Eu fui o oposto de gentil gritando diante do homem que ele deveria ser gentil.
Mas o episódio serviu para que eu pensasse nessa virtude tão subestimada em nosso mundo. Gentileza parece algo menor, descartável. Em alguns casos, até meio otário. Ou fora de moda. Até para escrever essa coluna me pareceu prosaico demais. Pensei: vão achar que estou sem assunto. Então, decidi correr o risco de soar piegas.
“Gentileza gera gentileza”, o título da coluna, foi tomado emprestado dele, o próprio Gentileza. Se você não o conhece, vá atrás de sua história. Garanto, vai ganhar o dia. Eu mesma, na minha ignorância, só sabia que Gentileza havia sido um poeta das ruas que escrevia pelas pilastras do Rio de Janeiro, um pouco maluco, meio folclórico, um tanto extraordinário. E que um dia foi tema de uma música de Marisa Monte. Era bem mais do que isso, descobri. Gentileza foi um grande homem, com um grande legado e uma grande vida.
Passou a maior parte dela pregando a gentileza como um modo de existir. Depois que morreu, em 1996, velhinho, aos 79 anos, a Companhia de Limpeza Urbana do Rio cobriu seus escritos nas pilastras do viaduto do Caju com tinta cinza. Não podia ser mais simbólico. O apagamento de Gentileza gerou um movimento de reação chamado “Rio com gentileza”, que resgatou o livro urbano de Gentileza e propõe a gentileza como uma forma de estar no mundo. Comecei a pesquisar sobre o Gentileza na internet e de cara entrei no site do movimento. Depois de uma delícia de passeio por lá, saí com vontade de propor o movimento Brasil com gentileza para o meu vizinho.
É sério. Parece pouco. É muito. Faz uma enorme diferença. Quando somos maltratados em algum lugar, por alguém, isso já envenena o nosso dia. E desencadeia reações desencontradas em cadeia. Por outro lado, às vezes nem percebemos, mas a beleza de outro dia, nosso suspeito bom-humor num dia comum, começou lá atrás, quando alguém teve um gesto gentil, nos acolheu com simpatia, nos tratou bem. Seja o nosso chefe, o motorista do ônibus, o balconista da padaria. Faz bem para a vida ser tratado com gentileza. E um gesto gentil também desencadeia reações similares em cadeia. Gentileza, o profeta, tinha toda a razão quando respondia aos que o chamavam de maluco: “Maluco pra te amar, louco pra te salvar”.
Gosto muito de observar as pessoas, os enredos. Percebo que grandes desencontros são desencadeados por um detalhe muito pequeno. É como aquelas cenas de animação, em que o personagem tira uma pedrinha do lugar e causa uma avalanche. Você já deve ter visto em alguma reunião de empresa ou mesmo dentro de casa ou numa repartição pública. Alguém fala algo sem nenhuma gentileza, que poderia ser dito de um jeito muito mais cuidadoso. O destinatário daquela mensagem recebe como agressão e retruca um tom acima. Daí em diante, já era. Não acaba em nada de bom.
Se cada um de nós fizer uma reconstituição mental do nosso dia, hoje mesmo, vai perceber que o pior dele foi causado porque não foram gentis conosco nem fomos gentis com os outros. Desde o bom dia que faltou, o por favor que não foi dito, a buzina desnecessária no trânsito, a cara fechada, o sorriso que economizamos, a ajuda que poderíamos ter dado e não demos, ou ainda a que não recebemos, o elogio que não veio, a crítica que deveria ter sido feita para somar, mas foi programada para massacrar, o veneno que escorreu da nossa boca e da dos outros. Uma soma de pequenos e desnecessários gastos de energia que só serviram para nos intoxicar.
Gentileza é o exercício cotidiano de vestir a pele do outro. É cuidar não de alguém, mas de qualquer um. Mesmo que ele não seja nosso parente, mesmo que seja um estranho. Cuidar por nada. Sem precisar de motivo. Cuidar por cuidar.
Por que algo tão essencial se tornou supérfluo? Porque gentileza não se consome, talvez. Não tem valor monetário. Não se ganha nada de material com ela. Também não custa nada.
Esta, em parte, é a insubordinação contida na arte de Gentileza, o poeta das ruas. Ele, que nunca aceitou um centavo pela sua gentileza. Dizia: “Cobrou é traidor – o padre tá esmolando, o pastor tá pastando e o papa tá papando, papão do capeta capital”.
O resgate desta gratuidade, de algo que é dado sem esperar nada em troca, é o que faz nosso mundo estremecer. Como o que Gentileza deu à cidade do Rio de Janeiro: não apenas seus escritos, mas seu existir. Sua estética era sua ética, ele as continha ambas no seu viver.
Era grande o que ele gerava nas vizinhanças do Caju, ao dar algo que ninguém pediu – sem querer ganhar nada com isso. Nos últimos tempos só acenando sorridente ao lado de sua obra física. Suavemente ele punha abaixo a lógica do mundo. Só sendo. E ser era tão subversivo que, na época da ditadura, chegaram a achar que Gentileza era comunista. Teve de dar explicações às autoridades sobre as iniciais PC do estandarte que então carregava pelas ruas: não, não, PC não era Partido Comunista, mas Pai Criador.
Hoje, tratar mal as pessoas, marchar pelos corredores, fechar a cara, não dar bom dia e dizer coisas duras sem nenhum cuidado parece ser um atributo dos poderosos. Quase uma virtude. Ao conhecer alguns CEOs por aí, fico imaginando se no currículo deles está escrito: “Há 20 anos grita com quem está abaixo dele na hierarquia”. Ou: “Tem PhD por Harvard em humilhação dos subordinados”. Ou ainda: “Massacra os funcionários em inglês fluente, mas se for necessário pode xingar também em francês e mandarim”.
SAIBA MAIS
O conjunto de características que costuma cercar o poder é imediatamente incorporado pelos subordinados. Nessa lógica, há sempre alguém mais ferrado que podemos maltratar, a quem não precisamos beneficiar não com a nossa gentileza, porque gentileza não tem nada a ver com isso, mas a quem não precisamos beneficiar com a nossa bajulação. Canso de ver motoboys ser maltratados por recepcionistas de empresas chiques, enquanto me tratam bem porque numa rápida avaliação da minha roupa acreditam que talvez, quem sabe, posso ser alguém importante. Canso também de ser gentil e, por isso, ser tratada com rispidez, porque confundem minha gentileza com fraqueza. Recuso-me a embarcar nessa lógica que me obrigaria a falar alto e exalar arrogância para ser tratada com deferência. Prefiro falar com delicadeza e exalar apenas o meu perfume.
Acho que ser gentil não é nada prosaico, é um ato de resistência diante de uma vida determinada por valores calculáveis: só faço tal coisa se ganhar algo em troca, seja dinheiro ou um dos muitos pequenos poderes ou um ponto a mais com quem manda. A gentileza vira essa lógica do avesso: sou gentil sem esperar nada em troca. Sou gentil porque sou. Não porque tenho ou porque quero. Apenas sou. E, como sabemos, o ter – o consumir desenfreado – é aquele que vai tentar preencher o buraco aberto pela impossibilidade do ser.
Numa de suas internações porque alguém decidiu que ele era louco, Gentileza passava os dias com os outros internos ao redor, pregando sua gentileza. Até que um psiquiatra teria dito: “Gentileza, você veio aqui para nós te curarmos ou para você nos curar?”. Alguém que, como ele, havia se desfeito de todo o patrimônio para pregar a gentileza só poderia mesmo ser considerado louco nesse mundo. Mas, ainda bem, havia um médico que também era um pouco doido para devolver Gentileza às ruas.
Dia desses flagrei-me sendo indelicada com a moça do telemarketing. Me senti muito mal. É chato, todo mundo sabe. Ela também acha chato, tenho certeza, ter de falar como um robô horas a fio, dia após dia. É bem pior para ela do que para mim. Desde então, tenho me esforçado. Pouco antes de começar a escrever esse texto peguei a mim mesma respondendo secamente a uma assessora de imprensa que ligou, errando o meu nome (Elaine Blum) e perguntando se eu trabalhava com um tema que não tem nada a ver com o que faço. É verdade que não é legal errar o nome e a área das pessoas para quem queremos dar uma informação, mas também é óbvio que ela preferia acertar. Às vezes até nos convencemos que temos razão de sermos incivilizados, mas não temos. Se tínhamos alguma, a perdemos no momento em que agimos mal. E sempre há um jeito de dizer, mesmo coisas muito duras, sem arrasar quem nos escuta.
Tenho uma grande amiga que se apaixonou por um homem numa festa. Foi um dos poucos casos de amor ao primeiro gesto que testemunhei. Ela derrubou comida na roupa e ele imediatamente pegou um guardanapo para ajudá-la a se limpar. Logo depois, a encontrei no banheiro e ela me pegou pelo braço: “Vou casar com aquele cara”. E eu, chocada diante de alguém que era famosa por ser avessa a casamento: “Como assim?” E ela: “Ele é gentil”. Ele era – e é – um homem incrivelmente gentil. Estão juntos há sete anos, e o deles é um dos casamentos mais felizes que conheço. Minha amiga, que tinha alguns cantos bem abruptos, ganhou contornos mais arredondados: descobriu que também havia uma mulher gentil morando dentro dela.
Gentileza não é mesmo algo que temos, é mais algo que somos. E que nos tornamos. Talvez o verdadeiro poder esteja naquele que pode dar sem esperar nada em troca. Como Gentileza.
Assim como inventaram um dia sem carro, acho que podíamos criar um dia com gentileza. Não precisa ser uma campanha de massa, basta uma decisão interna, silenciosa, de cada um. Só para experimentar. Um dia só tentando ser gentil. Engolindo a palavra ríspida, calando a fofoca ainda no esôfago, olhando de verdade para as pessoas, escutando o que o outro tem a dizer, mesmo que não nos pareça tão interessante, sorrindo um pouco mais.
Pequenos gestos. Segurar o elevador, dar oi e dar tchau, não se atravessar na frente de ninguém nem sair correndo para ser o primeiro, ter paciência em vez de se irritar, elogiar um pouco mais, deixar passar o que não foi tão legal, mas também não foi tão grave e, quando a crítica for imprescindível, abusar da delicadeza. Um dia só, mesmo que seja apenas para experimentar algo diferente.
Quem sabe o que pode acontecer?
ELIANE BRUM
Li esse texto recentemente e achei o seu teor de extrema importância, apesar de ser um assunto tão desvalorizado em nossos dias de indelicadeza.
É extenso, mas vale muito a pena.
Para ler e meditar sobre o assunto.
Claudia Fernandes
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sexta-feira, setembro 18, 2009
A língua do "P"
Este texo é notável, pena que não conheço a autoria.
Claudia Fernandes.
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Prosaicos Poemas
quinta-feira, julho 02, 2009
O silêncio da alma...
Li esse texto do grande Rubem Alves e achei o assunto muito interessante. Espero que goste.
Escutatória
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.”
Parafraseio o Alberto Caeiro:
Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Daí a dificuldade:
A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios:
Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.
Vejam a semelhança...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio... Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial.
Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem.
Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos... Pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza... Na verdade, não ouvi o que você falou.
Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.
Falo como se você não tivesse falado.
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.
E, assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência...
E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.
Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...
Que de tão linda nos faz chorar.
Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
Rubem Alves
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quarta-feira, fevereiro 04, 2009
Um Trem para Lisboa.
“Cada um de nós é vários, é muitos,
Fernando Pessoa
Livro do Desassossego
Fonte: Wikipedia
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quinta-feira, novembro 08, 2007
Essa tal felicidade...
quinta-feira, novembro 01, 2007
Happy Hallow's eve!
Happy Halloween, folks...
Na falta de festas nacionais que as pessoas considerem interessantes e bacanas, importamos essa que não tem absolutamente nada a ver conosco, mas que festejamos como se sua origem fosse aqui...
Falo isso, porque sempre que chega essa época, reflito sobre esse fato.
Uma certa ocasião, meus alunos me pediram freneticamente que eu fizesse uma festinha de Halloween para comemorar. Eu fiz. Comprei abóboras, chapéus de bruxa, faquinha de mentira, velinhas roxas, etc...
Mas antes perguntei:
- Comemorar o quê, afinal?
- Ah, sei lá...
E eu retruquei:
- Em São João, vocês não tiveram esse mesmo interesse.
- Ah, São João é chato.
- Claro, claro... Legal é festa estrangeira. A nossa é chata.. Claro...
Logo após, eu ministrei uma aula mostrando a riqueza de nossas festas, folclore, etc... E o quanto nossas tradições e costumes podem ser muito bacanas.
Todo ano, esse pequeno diálogo me faz repensar essa festa e o porquê desse hype todo em torno de uma festa importada, sem nenhuma referência no nosso folclore...
Acabei fazendo a festa porque leciono Língua Inglesa e uma semana antes da festa sempre proponho algumas aulas sobre os fundamentos e as origens da comemoração que se baseiam nos costumes celtas e druidas( eles acreditavam na imortalidade da alma, a qual diziam se introduzia em outro indivíduo ao abandonar o corpo; mas em 31 de outubro voltava para seu antigo lar a pedir comida a seus moradores, que estavam obrigados a fazer provisão para ela.) e que não tem nenhuma similaridade com a festa atual, calcada apenas em negócios e lucros.
Mas para o povo brasileiro em geral, qual o sentido dessa festa?
Festa por festa?
Comemorar por comemorar??
Penso que seja um pouco de alienação, mas...
Cada cabeça é um mundo, não é?
Não sou contra a tradição, pelo contrário, e não cultivo nenhum sentimento anti-estrangeiro, só penso que deveríamos conhecer(o que não significa gostar, admirar) muito bem o que é nosso, para podermos assim importar qualquer coisa de fora. Sigamos esse exemplo deles primeiro.
Viva São João para quem é de São João...
Happy Halloween para quem é de halloween...
Claudia Fernandes
P.S. 1 - Helloween está grafado na foto com "e" numa alusão a uma banda de que gosto muito.
P.S. 2 - Leia sobre: www.acidigital.com/controversia/halloween.htm
P.S. 3 - O crime mais terrível que eu cometi no "Dia das Bruxas" e não vai de encontro aos ensinamentos dos Celtas e Druidas, os criadores da tradição do Halloween, é esse:
Mila no papel de Lady "recebi uma facada torta na cabeça"...
Ouça:
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domingo, outubro 21, 2007
O que é música afinal?
Música é uma das coisas que eu conheço mais difíceis de se definir.
Música (do grego μουσική τέχνη - musiké téchne, a arte das musas) pode ser definida de forma bem primitivamente como uma alternância de sons e silêncio distribuídas ao longo de um tempo determinado.
Pode-se conceituá-la também através dos princípios da física, da linguagem, mantendo-a num campo puramente teórico, frio, até mesmo previsível. Ou deixar que ela, a música, por si só, faça acontecer a sua mágica, em que ela própria se auto-define através dos sentidos de cada um.
A música criou estratégias de sedução. E ela tem mostrado muito talento na sua aplicação nesta difícil empreitada. Quando uma música chega aos ouvidos, adentra pelos poros da pele, e assim vai percorrendo um caminho de sensações até chegar ao coração, ela está se apresentando para o ouvinte. Dessa forma, mostra suas notas, timbres, sua melodia, seus compassos, harmonia, às vezes letras, e com isso, dependendo do poder de sedução que ela possuir, esse percurso que parte dos ouvidos, passa pela pele e vai até o coração pode se transformar numa viagem sensorial, que aflora a emoção, arrepia os pelinhos e leva a lugares nunca antes imaginados.
Mas esse fenômeno não acontece a qualquer hora, com qualquer música. Isso depende muito. Depende da "química" entre esse ouvinte e a música. Acho bem bacana a origem da palavra vir de "musa", pois esta é exatamente a imagem alegórica que eu tenho da música. Algo que com seu poder mágico me seduz com arroubo. Ou não. Pois nem sempre se é brilhante o suficiente para aplicar corretamente uma estratégia. E porque nem toda musa é assim uma senhora musa, concorda?
Haverá três relações básicas (há outras, claro) entre você e uma música:
a) a música tocará e você nem perceberá que está tocando, tamanha a insignificância da mesma;
É exatamente a hipótese da letra c a que estou me referindo. É essa sensação, a qual costumo chamar de orgasmática, que procuro sentir ao ouvir uma música. Músicas insignificantes e de péssima qualidade abundam, o que na verdade, ao invés de diminuir, intensifica o poder transcendental que uma boa música tem. Já esta última está cada vez mais rara de se encontrar. E como sou viciada nessa sensação há tempos, estou me sentindo bem próxima de uma trip a la cold turkey. Talvez as verdadeiras musas decidiram fazer como a Greta Garbo e se retiraram. Para o azar desta que vos fala!
Essa foi apenas a minha tentativa, assumidamente deficiente, de fazê-lo, pois é dessa forma que eu vejo e gosto de sentir a música.
Bjo.
Claudia Fernandes
P.S. Gostaria de colocar uma música do Camel chamada Ice para ilustrar os efeitos descritos na letra c em minha pessoa, mas não consegui em lugar algum links da música. Desculpe.
Beethoven
terça-feira, outubro 16, 2007
Alma vazia
A carroça vazia
Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me para dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer.
Ele se deteve numa clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou:
- Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
- Estou ouvindo um barulho de carroça.
- Isso mesmo, disse meu pai, é uma carroça vazia...
Perguntei:
- Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
- Ora, respondeu meu pai. É muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho.
Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Tornei-me adulto, e até hoje, quando vejo alguém:
- falando demais;
- gritando (no sentido de intimidar);
- tratando o próximo com grossura inoportuna;
- prepotente;
- interrompendo a conversa de todo mundo;
- querendo demonstrar que é o dono da razão e da verdade absoluta...
Tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:
"Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz..."
Para refletir...
Bjo.
terça-feira, outubro 09, 2007
Last Words
Estas foram as últimas palavras de algumas celebridades internacionais.
Se você conseguir lê-las na imagem, então poderá ficar tranquilo, pois isto significa que, provavelmente, as suas não serão proferidas tão cedo...
Pensando nisso, cheguei à conclusão de que as minhas seriam estas:
Adeus."
É claro que se essa minha derradeira cena não fosse assim, meio clichê, cheia de referências e, acima de tudo, bem dramática, não seria eu a protagonista.
Mas, a propósito, se você pudesse escolher já, quais seriam as suas últimas palavras?
Bjo.
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sexta-feira, outubro 05, 2007
Carimbo oficial grafa errado "Congresso"
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O que esperar de um congresso com tantos ignorantes metidos a intelectuais?
Qual?
Bjo.
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(Anagrama copiado de fotos postadas no JAAF)
sexta-feira, setembro 21, 2007
Respeito se mede com palavras?
Essa é, sem dúvida alguma, uma questão bem interessante. Ela me remonta a quando era pequena, minha avó me chamava para fazer algo, eu de pronto respondia: "o que é?", e logo era repreendida com um "é senhora, menina!". Sempre tive questionamentos sobre aquela pequena celeuma.
Creio que essa questão toda de pronome de tratamento tem a ver, de um lado, com a intenção de quem fala e do outro, com a arrogância ou não, de quem o exige.
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sexta-feira, agosto 31, 2007
Pensamentos...
(No dia de meu aniversário...)
Virginiana...
...eu sou desde que nasci.
Num dia 30, dei entrada nesse lado da vida...
...que ainda não conhecia.
Tive muita sorte...
...pois ganhei de presente uma família maravilhosa.
...fiz amigos, não muitos, só os necessários.
...achei o amor de minha vida, que por sua vez, me ama com uma paixão ardorosa.
...na maioria das vezes, pude cultivar minha personalidade livremente, mesmo que em algumas dessas vezes, acabei por desagradar a vários.
...adquiri uma companhia amiga, que hoje se tornou indispensável, a música, que me salva, sempre, de uma forma milagrosa.
Fiz besteiras...
...nunca fui ambiciosa o suficiente.
...preferia me isolar numa solitária ilha.
...talvez não tenha explorado toda a minha formação acadêmica como deveria.
...desisti de muitas conquistas por medo de ficar longe da família.
...já quis morrer e vivi muito tempo sem me dar conta de toda a sorte que teria.
Estou aprendendo...
...a enxergar com o coração(de verdade).
...a perceber que a felicidade está nas pequenas coisas e depende unicamente do seu estado de espírito, e de mais nada.
...que a morte deve fazer parte da nossa vida, mas sem traumas, sem neuras, por isso, tento encarar esse fato mais naturalmente, mesmo sabendo que, para mim, isto ainda um lento aprendizado será.
...que um fato terrível, como a depressão, pode me fazer crescer e me deixar muito mais consistente e em sintonia com algo muito maior, algo misterioso até, mas só se eu quiser ser ajudada.
...que o amor é o sentimento propulsor para todas as coisas pelas quais valem realmente a pena lutar.
Hoje...
...deixo aflorar minha intuição e criatividade com leveza e com toda a verdade que eu possa ter em meu ser, como se estivesse nua.
...toda a minha criação é como uma terapia, pois me faz retornar para dentro de mim mesma e leva quem porventura entra em contato com ela a uma estrada que dá em um lugar que antes era só meu e só eu conhecia, minha alma de poeta.
...tenho a consciência de que existe uma história única e especial para cada um de nós e que cada pessoa deve ter orgulho da sua, não por parecer um lindo sonho, mas pelo simples fato de ser exatamente como ela é, sua.
...ainda consigo me surpreender comigo e com meus extremos. Consigo ir da genialidade(rara, claro) à insanidade completa.
Virginiana...
...até morrer serei.
Um dia deixarei esse lado da vida...
...mas quando, ainda não sei.
Claudia Fernandes
E para acompanhar o texto, ofereço um clássico do Progressivo, Epitaph do King Crimson.
Enjoy it!!!
Bjo.
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terça-feira, agosto 28, 2007
Não sei porque, mas te odeio...
Um rapaz ia atravessando a rua, distraído, quando de repente, do outro lado, um homem aparentando ser mais velho que ele, pôs-se a gritar:
- Ei, você!
O rapaz respondeu surpreso:
- Eu?
E ele continuou:
- Sim, é você mesmo!
O rapaz sem saber do que se tratava, resolveu perguntar:
- Pois não?
E o homem já aos berros, dizia:
- Eu te odeio!
O rapaz começou a ficar preocupado:
- Por que, senhor? Eu lhe fiz algum mal?
O homem:
- Não!
O rapaz:
- Machuquei ou agredi algum familiar seu?
O homem:
- Não!
O rapaz foi ficando impaciente:
- Namorei alguém especial para o senhor?
O homem, nervosíssimo:
- Não!
O rapaz, sem saber nem mais o que perguntar:
- Concorremos à mesma vaga de emprego?
O homem com um grito estridente:
- Não!
O rapaz decidiu argumentar:
- Mas ninguém odeia à-toa... O senhor deve ter algum motivo para me odiar.
O homem já descontrolado:
- Eu te odeio... Eu te odeio! Isso não lhe basta?
O rapaz seguro, repetia:
- Claro que não. Preciso saber o motivo de tanto ódio.
Sem saber, o rapaz ia deixando o homem ainda mais exasperado:
- Não vou dizer!
E para tentar reverter a situação, o rapaz foi abaixando a voz, tentando deixar o homem mais calmo:
- Vamos lá... Diga. Que motivo o senhor tem para me odiar?
Foi então que, depois de tantas perguntas, o homem foi retornando de sua crise psicótica e chegou a uma estranha conclusão:
- É... Bem... Eu juro que até 15 minutos atrás eu tinha... Eu tinha! Mas esqueci!
O rapaz aproveitou e fez a pergunta que não queria calar:
- Sei... E agora, neste exato momento, o que o senhor sente por mim?
- Nada.
O rapaz já sem entender coisa alguma:
- Nada?
Ele repetia:
- É, nada.
O rapaz, num misto de espanto e alívio, exclamou:
- Então dá cá um abraço!
O homem devia comungar dos mesmos sentimentos, pois com uma cara de susto, respondeu:
- Um abraço? Tá.
O rapaz, agora já feliz por não ter sido assassinado, disse:
- E então? Amigos?
E o homem, com um sorriso nos lábios:
- Claro! Amigos...
O rapaz sentindo por aquele homem algo entre raiva do assassino e gratidão por estar vivo, esticou sua mão e falou:
- Toca aqui, amigão!
O homem, com o rosto tomado por um imenso sorriso, não disse nada, apenas apertou a sua mão com toda a força que tinha naquele momento e seguiu seu caminho...
Claudia Fernandes
Bjo.
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sexta-feira, agosto 03, 2007
Seja você...
Recentemente uma professora, que veio da Polônia para o Brasil ainda muito jovem, proferia uma palestra e, com muita lucidez trazia pontos importantes para reflexão dos ouvintes.
"Já vivi o bastante para presenciar três períodos distintos no comportamento das pessoas", dizia ela.
"O primeiro momento eu vivi na infância, quando aprendi de meus pais que era preciso ser. Ser honesta, ser educada, ser digna, ser respeitosa, ser amiga, ser leal."
"Algumas décadas mais tarde, fui testemunha da fase do ter. Era preciso ter."
"Ter boa aparência, ter dinheiro, ter status, ter coisas, ter e ter..."
"Na atualidade, estou presenciando a fase do faz de conta."
Analisando sob esse ponto de vista, chegaremos à conclusão que a professora tem razão.
Hoje, as pessoas fazem de conta e está tudo bem.
Pais fazem de conta que educam, professores fazem de conta que ensinam, alunos fazem de conta que aprendem.
Profissionais fazem de conta que são competentes, governantes fazem de conta que se preocupam com o povo e o povo faz de conta que acredita.
Pessoas fazem de conta que são honestas, líderes religiosos se passam por representantes de Deus, e fiéis fazem de conta que têm fé.
Doentes fazem de conta que têm saúde, criminosos fazem de conta que são dignos e a justiça faz de conta que é imparcial.
Traficantes se passam por cidadãos de bem e consumidores de drogas fazem de conta que não contribuem com esse mercado do crime.
Pais fazem de conta que não sabem que seus filhos usam drogas, que se prostituem, que estão se matando aos poucos, e os filhos fazem de conta que não sabem que os pais sabem.
Corruptos se fazem passar por idealistas e terroristas fazem de conta que são justiceiros...
E a maioria da população faz de conta que está tudo bem...
Mas uma coisa é certa: não podemos fazer de conta quando nos olhamos no espelho da própria consciência.
Podemos até arranjar desculpas para explicar nosso faz de conta, mas não justificamos.
Importante salientar, todavia, que essa representação no dia-a-dia, esse faz de conta, causa prejuízos para aqueles que lançam mão desse tipo de comportamento.
A pessoa que age assim termina confundindo a si mesma e caindo num vazio, pois nem ela mesma sabe quem é, de fato, e acaba se traindo em algum momento.
E isso é extremamente cansativo e desgastante.
Raras pessoas são realmente autênticas.
Por isso elas se destacam nos ambientes em que se movimentam.
São aquelas que não representam, apenas são o que são, sem fazer de conta.
São profissionais éticos e competentes, amigos leais, pais zelosos na educação dos filhos, políticos honestos, religiosos fiéis aos ensinos que ministram.
São, enfim, pessoas especiais, descomplicadas, de atitudes simples, mas coerentes e, acima de tudo, fiéis consigo mesmas.
Se é fácil enganar os outros, é impossível enganar a própria consciência.
Por todas essas razões, vale a pena ser quem se é, ainda que isso não agrade os outros.
Afinal, não é aos outros que prestaremos contas das nossas ações, e sim à nossa consciência.
Desconheço a autoria. Caso saiba, deixe-me saber também para colocar aqui.
Amigo(a)
Acabei ficando sem tempo para este que é um dos meus passatempos preferidos, a net.
Peço desculpa pela escassez de visita aos blogs queridos e pela ausência de notícias minhas, mas esse fato é temporário. Assim espero.
Deixo um cheiro para você.
Bjo.
terça-feira, junho 19, 2007
Momento de pessimismo - Salvador, uma bela cidade injusta..
Essa foi a conclusão a que chegaram os técnicos da ONU, numa pesquisa feita sobre desigualdade social no Brasil e no mundo.
O levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nesta quarta-feira aponta a Região Metropolitana de Salvador como uma das maiores desigualdades sociais do mundo, com diferença de renda entre moradores de até 2.532%. O contraste entre ricos e pobres na metrópole baiana é tão intenso que, se fosse um país, teria a segunda pior distribuição de renda do mundo, atrás apenas da Namíbia - segundo o Índice Gini.
Quando ouvi essa notícia, logo me veio à mente algo do tipo: "Mais desigual que o Rio de Janeiro?"(estive no Rio, e posso afirmar que lá a coisa é gritante, assustadora mesmo.) O povo rico em mansões na Barra da Tijuca, e o povo pobre, oprimido nas favelas, sendo monitorado no seu elementar direito de ir e vir, com viaturas da Polícia patrulhando as entradas dos principais morros, numa segregação ostensiva e às claras. Como se os ricos estivessem livres aqui embaixo e os pobres presos lá em cima. Terrível.
Mas foi neste exato momento que a ficha caiu. Porque não é bem assim. No Rio, o caso é gravíssimo, claro. Mas pelo menos, se é que podemos falar em vantagem, ela consiste em ser a injustiça de lá algo próximo do palpável, do notório. A pior injustiça é aquela feita na surdina, às escuras, que quase ninguém vê ou quer ver. Desse tipo de injustiça, é muito mais difícil de se defender, pois ela cega as pessoas. É o caso de Salvador.
Ninguém pode negar que esta cidade é realmente bela, com lugares maravilhosos, cheia de história, de cultura, com pessoas gentis, simpáticas, iluminadas, músicos e artistas de primeira qualidade, lugar da mistura de raças, sol, calor, praias paradisíacas (apesar destes 3 últimos não serem de minha preferência pessoal). Isso não é mera invenção. É fato. É a Salvador do belo, do engraçado, do céu azul, da brisa gostosa, do abará quentinho, da Ribeira, Humaitá, Rio Vermelho, Liberdade. Dessa Salvador eu me orgulho, com ela me emociono em certas ocasiões e dou muitas risadas em outras.
Mas aqui, as coisas não são tão coloridas e musicais como são exportadas para o mundo. E aquele lado exageradamente alegre, bem cuidado, com pessoas bonitas e risonhas, lugares maravilhosos faz parte de uma mega-produção feita para vender o lugar, vender a fantasia para o estrangeiro, embora, por ironia, uma boa parte do próprio povo local termine também comprando o produto, de forma consciente (ou não). Essa é a Salvador da beleza, do calor, do axé, do pagode, do dinheiro, das festas nababescas, dos turistas, das praias, do hedonismo. A Salvador com a qual eu, pessoalmente, não tenho a menor identificação e que, de alguma forma, me pressiona na direção de um "cada dia mais rígido" auto-retiro.
Na contramão desse sonho de consumo, e se você tiver a infeliz oportunidade de pegar algum veículo e seguir em direção à Cidade Baixa (localidade mais afastada dos grandes centros, dos bairros nobres etc...), poderá constatar a faceta de um outro lado ardilmente camuflado dessa "cidade da felicidade", lado que deveria ser tão surreal nos dias de hoje quanto aquele produto fake vendido para turistas. Famílias inteiras embaixo das marquises, deitadas nas ruas, em casas(?) de papelão, vivendo de forma invisível, completamente esquecidas pelo governo. Essas pessoas não têm mais moradia, nem emprego, nem saúde, nem educação, nem dignidade, não restou absolutamente nada e nem a quase imortal esperança conseguiu resistir. Sobrevivem apenas com o que a sorte oferece nas ruas. Eles também sabem que não serão assistidos pelo governo, nem farão parte de nenhum dos seus projetos milagrosos e só podem contar mesmo com outros seres humanos generosos que saem à noite para doar sopa, pão, ou seja, algo para matar, ao menos, a fome de comida. Porque para todas as outras fomes, a única coisa que sobra é indiferença. E assim, essas pessoas vão sobrevivendo, esperando apenas pela única coisa realmente certa em suas vidas, a chegada da morte. Essa é a Salvador do frio, do lixo, da fome, do abandono. A Salvador pela qual sinto meu estômago revolver-se de indignação, meu coração doer de tristeza, e meus olhos se fecharem de vergonha.
Bjo.
Música:
sexta-feira, junho 15, 2007
Dois presentes em um...
Engraçado como, às vezes, quando menos se espera, as pessoas prestam atenção nas coisas que nós dizemos.
Há muito pouco tempo percebi que se eu tivesse um dicionário de rimas seria maravilhoso.
E falei assim, para o vento... e pensei comigo mesma: "no final do mês vou comprar um."
Mas não precisou chegar até o fim, no começo mesmo eu já estava com um exemplar em mãos. E ainda de graça.
E não é que ganhei um dicionário de rimas, ótimo, no dia dos namorados? Percebi, com isso, que o que eu falo não falo apenas para as paredes. E isso me deixou feliz. Acho que ainda mais que o tão cobiçado presente.
E só quem é poeta, ou acha que pode ser um, sabe a tremenda importância de um livro como esse.
Bjo.
Minha família
My kind of Spirit...
You are the elusive Night Spirit.
Your season is Winter, when the stars are bright and frost crystallizes the fallen leaves.
You are introspective, deep-thinking, and mysterious.
Everyone is intrigued and a little intimidated by you because you have an aura of otherworldliness.
You work in extremes, sometime happy, other times sad, but always creative and philosophical.
You are more concerned with the unseen, mystical, and metaphysical than the real world.
Night Spirits have a tendency to get lost in themselves and must be careful not to forget reality, but their imagination is limitless.