12/06/2010 - 12h39
Vespertinos ganham apoio da medicina para não serem tachados de vagabundos
Lilian Ferreira*
De Gramado
Segundo médico, das pessoas que vão ao consultório com queixa de insônia, 10% têm o transtorno da fase atrasada do sono.
“Você nunca vê a mãe falar: 'tadinho, meu filho tem que acordar meio dia todo dia”, dispara o neurologista Luciano Ribeiro Pinto Jr., pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Pinto Jr. estuda transtornos no ritmo do sono e, segundo ele, um tipo muito frequente e que pede atenção é o transtorno da fase atrasada. “Geralmente estas pessoas chegam ao consultório com queixa de insônia, mas 10% destes são vespertinos, têm o transtorno da fase atrasada do sono”.
Em 24 horas, seu organismo segue um ritmo circadiano, que alterna níveis de hormônios e temperatura corporal enquanto você está em vigília ou dormindo. Os hormônios do crescimento, por exemplo, são excretados durante o sono profundo. Este ritmo pode ser alterado se você dorme cada dia um horário muito diferente ou se você têm um gene que faz com que você só consiga dormir tarde da noite e acorde perto da hora do almoço.
“Se você acorda cedo, pode perder a fase REM do sono que acontece na segunda metade da noite”, explica Geraldo Rizzo, diretor do Laboratório de Sono dos Hospitais Moinhos de Vento e Mãe de Deus, em Porto Alegre. O REM é a fase dos sonhos, e, sim, todos sonham nesta fase, mas você só se lembram se acordar logo em seguida.
As consequências para esta pessoa que não consegue dormir cedo porque seu organismo funciona de maneira diferente são inúmeras. Além do preconceito por parte da família e dele próprio por não conseguir acordar cedo, ele tem menos capacidade de concentração, transtornos de humor, sonolência e os demais efeitos da privação do sono.
“Os vespertinos têm também maior tendência à depressão”, diz Pinto Jr. Para Sérgio Tufik, coordenador do Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), todo desajuste do sono indica a predisposição para um problema psiquiátrico.
Segundo Tufik, a privação do sono afeta os sistemas nervoso central e autônomo, endócrino, renal, cardiovascular, imunológico, digestivo e o comportamento sexual e expressão genética.
Pinto Jr. acredita que é necessário vencer os preconceitos e impor uma mudança no hábito escolar. “Se a criança precisa acordar mais tarde é claro que ela vai ficar como um zumbi na escola, que começa às 7 h da manhã, e com isto, ela tem mais dificuldade para aprender”.
Durma para criar anticorpos
Quase todo mundo sabe as consequências de noites mal dormidas em que há ausência de uma das fases do sono: dor muscular, fadiga, diminuição do bem estar, além de queda na concentração, alerta, capacidade mental, aprendizado e memória. Em oito horas de sono, temos cerca de 2 horas de sono REM (de 20 a 25%), 25% de sono profundo ou delta e 50% de sono leve.
Estudos recentes vêm mostrando que o sistema imunológico também é severamente prejudicado na falta de sono. Em um deles, os anticorpos caíram 97% quando privados de sono. “Isso faz com que vacinas não peguem, por exemplo. É preciso dormir bem antes e depois de tomar a vacina para que ela tenha efeito”, explica Tufik.
Por outro lado, já se conhecem alguns benefícios da privação do sono. Ela age no organismo gerando supersensibilidade da dopamina, similar ao efeito de drogas como a cocaína e de antidepressivos. Por isso, ela melhora a depressão e os efeitos do Mal de Parkinson.
“Outra característica encontrada é o aumento da ereção peniana durante o sono, o que acontece por aumento da progesterona principalmente e não da testosterona como se pensava”, conta Tufik. Nas mulheres, a privação do sono pode ainda mudar o ciclo menstrual e ficar suspenso por algum tempo.
* A editora-assistente viajou a convite da organização do evento
Fonte:
UOL Ciência e SaúdeSe eu soubesse disso antes, teria prevenido tantos problemas nessa minha vida!!
Mas fiquei confusa com uma coisa:
“Os vespertinos têm também maior tendência à depressão', diz Pinto Jr."
"Ela age no organismo gerando supersensibilidade da dopamina, similar ao efeito de drogas como a cocaína e de antidepressivos. Por isso, ela melhora a depressão e os efeitos do Mal de Parkinson."