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Comecei a escrever no momento em que percebi que só pensar não mais me satisfazia.

Precisava transbordar todo aquele pensamento que só ao meu universo de idéias pertencia.

Hoje, escrevo por pura necessidade, por irresistível vício e por agradável teimosia.




Claudia Pinelli Rêgo Fernandes ®



quinta-feira, julho 29, 2004

Paixão


Paixão Posted by Hello

Frémito Do Meu Corpo

Frémito do meu corpo a procurar-te.
Febre das tuas mãos na minha pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel.
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...

E o meu coração que tu não sentes
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas.

Florbela Espanca

Florbela Espanca é uma escritora pouco conhecida, mas que é genial.. Conheci sua obra quando fiz Letras e me apaixonei..

Bjo.

Música: Starless do King Crimson.

terça-feira, julho 27, 2004

Intimidade: Prós e Contras


Lovers Posted by Hello


INTIMIDADE: PRÓS E CONTRAS

As pessoas desancam o casamento. Dizem que o amor mingüa, que o sexo começa a rarear, que a rotina é acachapante. Dizem, dizem, mas as pessoas seguem casando e mantendo-se casadas por quilométricos anos. Qual é a boa dessa história? Uma jóia chamada intimidade. Íntimos, muitos acreditam, são duas pessoas que possuem relações físicas e emocionais entre si. É bem mais que isso. Intimidade é você não precisar verbalizar tudo o que pensa, é aceitar a solidão do outro, é estarem familiarizados com o silêncio de cada um. Intimidade é não precisar estar linda em todos os momentos, não precisar ser coerente em todas as atitudes, é rirem juntos de uma história que só eles conhecem o final. Intimidade é ler os olhos, os lábios e as mãos de quem está com você. Mais do que repartir um endereço, é repartir um projeto de vida. Não basta estar disponível, não basta apoiar decisões, não basta acompanhar no cinema: intimidade é não precisar ser acionado, pois já se está mentalmente a postos. Intimidade é não ter vergonha de ser o que a gente é, não precisar explicar coisa alguma, ser compreendido e brigar sabendo que nada irá se romper. Intimidade é não precisar andar na ponta dos pés pelos corredores de uma vida compartilhada. Muitos mantém-se casados por causa desse idílio que é não precisar se anunciar todo dia como um investimento seguro, podendo inclusive usar aquelas camisetas puídas e comer o "s" de um palavra no plural sem que a sua cotação desabe. Só há uma coisa ruim na intimidade: a falta que faz um pouco de cerimônia. Calcinhas penduradas no banheiro, o telefonema sempre na mesma hora da tarde, o arroto que dispensa o pedido de desculpas, o lençol amarfanhado, a TPM todo santo mês, o mesmo perfume, as mesmas reações, o mesmo cardápio. O lado negro de um matrimônio feliz. O casamento dá uma intimidade rara, apaziguadora, salutar. Não há máscaras nem teatro: é o habitat natural de um homem e de uma mulher que se querem como são. A intimidade salva as relações extensas, a não ser quando as corrói. Contradição maquiavélica. O melhor e o pior dos mundos, nos obrigando a escolher entre o habitual e a novidade, entre a paz e a adrenalina, entre a rede e o salto. Sedução x segurança: que vença o melhor.

Martha Medeiros.

A Martha é fantástica..
E como o texto anterior mostra o lado negativo(?) do casamento, decidi postar esse que faz exatamente o contrário..
Para que não pareça que sou parcial demais..rs..

Bjo.

Música: Ice do Camel.

sexta-feira, julho 23, 2004

Separação de Bens


Separação Posted by Hello

Separação de Bens

Você fica com a razão.
Eu fico com os dias ensandecidos
Com o vento nos seus cabelos
Com o canto final do sol
No dourado da sua pele.

Você fica com a verdade.
Eu fico com os raios da lua
Com os sussurros sem nexo
Os beijos loucos, dementes
Com a obsessão dos corpos.

Você fica com o direito.
Eu fico com as horas de gozo
Com o ruído das folhas das árvores
Com seus dedos tecendo anseios
Na brancura do meu corpo

Você fica com o que é certo.
Eu fico com a incerteza
Com a beleza do instante sem continuidade
Com o momento perdido entre as horas
Com a eternidade perdida no momento.

Você fica, meu amor.
Eu sigo.


Dalva Agne Lynch
(21/08/00 - poema premiado em Londres, UK)

Muito lindo, né???
Sem palavras..

Bjo.

Música: Moonlight sonata do Beethoven.

quarta-feira, julho 21, 2004

Uma pitada de sal, uma porção de magia, um naco de poesia


Posted by Hello

Uma pitada de sal, uma porção de magia, um naco de poesia

Os que acompanham os meus textos, aqui mesmo nesse espaço do Arte & Cultura, sabem que é um tema recorrente em minhas crônicas a denúncia da rotina e do cotidiano como impiedosos assassinos da poesia e da magia que se pode garimpar, ainda que com um pouco de esforço, paciência e dedicada atenção, aqui e ali, vida afora, mesmo em meio a esses nossos dias de automatismo e frêmito arrivista.

Nesses dias tão pródigos em cascalho, dejetos, joio e farelos, e tão pobres em cultura e arte/imaginação, o ato de buscar pérolas e alegrias, aqui e ali, agora, alhures e algures, pode parecer a alguns algo inútil. Porém, provecto garimpeiro que sou, asseguro-lhes que escrever sobre certos temas preciosos, e esse é um desses temas, nunca é demasiado. Isto posto, e no caso da sua concordância, caro leitor, sigamos em frente procurando, como sempre, em meio ao barro e ao cascalho dos dias, algo a reluzir. Vamos nessa, então?

Brenda e Jasmim apareceram para mim como fruto da magia do cinema, a partir de um DVD de R$9,90 (pouco mais de 3 dólares e pouco menos 3 euros, para os que estão mais alhures, em outras fronteiras – portanto, uma pechincha!). Brenda e Jasmim são duas personagens do filme Bagdá Café. Esse filme, esclarecendo para os que não o assistiram, foi cult na década de 1990 (ou terá sido 1980?) e conta a história de duas mulheres “abandonadas” pelos maridos – na verdade, as duas não foram propriamente abandonadas, mas, principalmente a irascível Brenda, para ser mais fiel aos fatos, escorraçaram seus homens, medíocres homens, de suas vidas.

Não conto mais detalhes do filme para não ser estraga-prazeres daqueles que ainda não o viram. Mas do encontro dessas duas mulheres, dessas duas realidades, dá-se um pequeno milagre. O milagre do encantamento entre seres humanos, tão diversos e solitários, encerrados em seus mundos. O milagre da amizade desinteressada, da magia, da compreensão, da tolerância, da solidariedade – preciosidades raras de se encontrar nos dias em que vivemos. A magia aqui não servirá como mera figura retórica, mas, de fato, no filme a mágica é um instrumento de encantamento e integração entre as pessoas. Jasmim descobre em meio a sua bagagem (na verdade, a bagagem do “ex”) uma caixa com pequenos truques de mágica de salão do tipo “faça você mesmo”. Para sobreviver, e encantar pessoas e serpentes, em meio a tanta diversidade, às vezes é previdente lançar mão de um pouco de mágica.

Um outro filme também tocante, e também muito bem feito e bem interessante, que tive o prazer de rever a pouco tempo é As Pontes de Madison (The Bridg of Madison Country – aquele com Clint Eastwood e Meryl Streep nos papéis principais. Mas nesse o ingrediente catalisador das transformações na vida das pessoas, no caso um casal de meia-idade, é o amor. O amor é, por natureza, subversivo e transformador, você sabe, nós sabemos.

O motivo de citar esses dois filmes é o de pura e simplesmente desejar compartilhar com vocês uma constatação curiosa que me veio à mente e que nem sempre é devidamente levada em consideração: o quanto as pessoas são capazes de, por elas próprias ou motivadas por um outro, operar pequenos milagres em suas vidas, quase sempre sufocadas por uma rotina modorrenta e sem viço.

Cabe aqui então algumas perguntas. Uma espécie de questionário que você responderá em pensamento, a si mesmo, portanto aqui não caberão mentiras, dissimulações e meias-verdades. O quanto de poesia e magia há na sua vida hoje? Quanto de desafio, novidade, criatividade e imaginação há no seu dia-a-dia? Você tem parado ultimamente para pensar em questões como essas? Será que a sua vida está mais para aquele arroz japonês, sem sal e tempero algum, o Gohan, ou está mais para uma suculenta lasanha ou macarronada, uma belíssima feijoada ou uma deliciosa moqueca de camarão?

É..., às vezes, estamos tão preocupados em viver a rotina, quase que como escravos, que esquecemos de por uma pitada de sal, digo, de poesia em nossas vidas. E a vida vai seguindo seu curso, assim meio que “no piloto automático”, meio que sem querer, sem nos darmos conta. Não é mesmo?

Quanto de poesia e magia há na sua vida hoje? Pense nisso! Quanto? Será que em quantidade e qualidade suficientes para não permitir que a sua alma fique insossa, desbotada, embotada por tantas tarefas, afazeres e responsabilidades acumuladas, por toda essa rotina sufocante e estressante que, muitas vezes, nos arrasta, arrasa e aniquila sem sequer percebermos?

Será que você tem se dado a oportunidade de fazer novas amizades? Quantas vezes, por exemplo, você já foi ao cinema ou ao teatro esse ano? Quantos espetáculos de música ou de dança terá assistido? Quantas taças de vinho ou champanhe terá tomado? Quantas embriaguezes prazerosamente experimentadas? Quantos sorrisos? Quantas gargalhadas daquelas bem gostosas? Quantos beijos embriagadores?

Há quanto tempo você não se dá um feriado e falta ao trabalho para, pura e simplesmente, ficar só, sozinho, sem fazer nada, curtindo um “ócio elegante”, ou mesmo uma pequena pausa para ir ao cinema com a esposa , com os filhos, com um(a) amigo(a)? Há quanto tempo você não faz amor bem gostoso com alguém – nem precisa ser com o amor da sua vida, que isso nem se sabe se existe mesmo, mas com alguém que você ame de fato ou por quem, pelo menos, tenha um enorme carinho e tesão. Há quanto tempo não ousa fugir, um pouco que seja, da rotina?

O quanto você tem refletido sobre o seu mundo? E sobre o mundo que lhe cerca!? O amor e a amizade têm permeado ou servido de alicerce para o(s) seu(s) relacionamento(s) com o(s) outro(s)? Quantas vezes você já disse ao seu pai, à sua mãe ou ao seu companheiro, ou companheira, o quanto os ama? Declare, sem pudor, o seu amor!

Declare!

Desculpe se lhe incomodo com tantas perguntas. É que, de repente, com o passar dos anos, com o passar da vida e dos filmes, a gente se dá conta de que são essas coisas que realmente importam na vida. E a gente perde tanto tempo correndo atrás de coisas sem importância e, muitas vezes, até de coisas as quais a gente nem sabe ao certo o que sejam, ou para o que servem, e por que, afinal, estamos há tanto tempo atrás delas.

Assista a mais filmes. Vá mais ao teatro. Leia mais livros, principalmente livros de poemas. Saia mais para jantar fora, para celebrar os dias. Vá mais ao campo, às praças. Olhe mais os pássaros e as flores. Faça mais amor. Cultive mais a amizade. Tenha mais fé, em Deus, mas, e principalmente, em você mesmo. Ponha mais poesia, sal e magia no seu dia-a-dia. E, não se esqueça, leia bons livros, assista a bons filmes, como Bagdá Café e As Pontes de Madison. Você verá as transformações que a arte é capaz de operar na vida da gente, de toda a gente.


Lula Miranda.



Eu li esse texto do Lula Miranda hoje num jornal que todos os dias recebo online.

Como sou fã do Lula, e como esse texto me comoveu tão profundamente, resolvi postá-lo.

Ele fala coisas tão lindas aqui que vale a pena ler...

É uma ode à delicadeza que está sendo esquecida pelas pessoas nos dias de hoje e que faz a total diferença, é o "sal" da vida..

Só acrescento a essa lista de filmes o Lost in Translation (Encontros e desencontros)... Muito lindo.


Bjo.



Música: The Rena Song do cd An Evening with John Petrucci & Jordan Rudess.

terça-feira, julho 20, 2004

Como eu queria


Como eu queria Posted by Hello


Como eu queria
Te proteger de tudo
De ti mesma

Como eu queria a certeza
Do teu beijo
Eterno

Como quero

Como eu queria
Que não houvesse olhar em volta
Que estivesse em mim
O que você precisa

Como queria
Não torturar meu dia por tua ausência
Não ser frágil em tua presença

Minha voz te repete
Meus olhos te escrevem
E nas pontas dos dedos vem te revelar

Como eu queria acreditar

Everton Behenck

Valeu, Everton.. Muito lindo..

Bjo.

Música: Moonloop do Porcupine Tree.

segunda-feira, julho 19, 2004

Quella Vecchia Locanda


Capa do cd homônimo da banda Quella Vecchia Locanda Posted by Hello

Resolvi escrever este tópico para mostrar o meu carinho por um amigo que apesar de se encontrar muito distante, na verdade, além mar, morava no meu coração..
Nome de anjo.. E para mim, era um anjo..
Escolhi essa gravura, pois é um fã incondicional do Progressivo Italiano.. ;o)
Mas hoje o anjo virou um estranho.

Bjo.

Música: Think of me with kindness do Gentle Giant.

Quando a alma pede a palavra


Luar Posted by Hello


Quando a alma pede a palavra

Chovia. Uma chuva fina. Dessas em que os pingos d’água parecem meio envergonhados. Uma chuva que pode ser contemplada por horas pela janela, porque faz-nos sentir a paz, agarrados na preguiça, deixando que os sonhos por nós passeiem sorridentes. Era uma chuva dessas que nos transmitem uma calma paciente, e que pede ao seu ilustre espectador solitário que ouça o tempo dizendo “tudo bem; não tem pressa”.
Naquele instante, vendo a chuva, ouviu conselhos da alma. Ela estava inquieta, sentindo-se só, um tanto assim perdida. Perdera-se não sabia muito bem exatamente onde, nem por quê. Talvez ao tropeçar pelos caminhos que passaram; ou talvez por não aceitar, em homenagem à ansiedade, que jamais conseguiria chegar no futuro antes que ele se tornasse presente.
Sentiu então uma saudade estranha da vida. Uma vontade de viver mais e mais. Sentiu falta do tempo que passou e, sem entender bem como, ainda do tempo que não veio. Foi quando se desculpou com o tempo que ali estava. Deu-lhe um abraço, respirou fundo, agradeceu à chuva e foi em frente. Queria a vida de novo, mas não mais a mesma vida.
Da janela olhou para o nada, e viu, de repente, tudo a respeito de si, como se ao longe uma tela estivesse projetando um filme de um protagonista apenas, que, porém, interpretava vários personagens incompletos, quase sem identidade. Viu que ali desfilavam desorientados seus vários “eus”. Não demorou para que o vidro da janela se tornasse um espelho, por onde enxergava o reflexo de um rosto – o seu próprio rosto – que demorou a reconhecer.
Fechou os olhos para poder escutar o silêncio daquela manhã tão especial. Estava já há algum tempo acordado do sono. Mas agora acordava para os seus sonhos. Chamou à lembrança os sonhos já vividos, guardados num canto qualquer de um mundo que se esquecera ser o seu próprio mundo, e deu-se conta de que muito do que se dizia sonho era, na verdade, a realidade transformada em poesia, que ele não soube declamar devidamente no tempo certo.
Decidiu, então, reescrever cada verso da sua vida. Trinta anos se passavam até aquela manhã.
Voltou no tempo e sentou ao lado de um menino deslumbrado com o mundo, curioso com a vida. Alguém para quem tudo tinha a sua graça. O menino estava ali, calmo, esperando que o próximo pensamento aparecesse. Ora assobiava; ora ficava quieto. Logo em seguida, cantava de improviso com as notas que voavam pelo ar e, aos poucos, ia criando uma trilha sonora de cada instante. E, assim, via passar o dia, encantado com a conversa da lua com o mar. Deixou que o momento dissesse tudo o que tivesse que ser dito.
Protegido pela força da infância revivida, descansou o seu rosto sobre as suas mãos, sentado na areia, repousando numa árvore, por certo milenar. Atrás das suas mãos, e escoltado por elas, que serviam como portas trancadas de um mundo só seu, deixou que os pensamentos passeassem por ali – viu que eles tinham muito a dizer. Eram lembranças boas de um passado quase esquecido; eram visões imaginárias de um futuro alentador. A realidade do futuro depende de quanto o queremos: é como se ele estivesse a postos, só esperando para ser chamado a se tornar presente. E se o presente assim se chama, não é à toa. O presente é o que a vida nós entrega de melhor. O passado é o presente que esquecemos de aproveitar. E o futuro, o presente que não pode ser aberto antes da hora.
O menino sorriu. Segurou firme as suas mãos. Depois, levantou-se e saiu caminhando sem destino. Se ele precisasse do menino, que fechasse os olhos e voltasse no tempo, que lá ele reencontraria mais do que um menino: encontraria a si mesmo.

Márcio de Camillis

Sem comentários.

Bjo.

Música: Epitaph do King Crimson.

Canteiros


Paraíso Posted by Hello


Canteiros

Quando penso em você fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade
Correm os meus dedos longos em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento

Pode ser até amanhã, cedo claro feito dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa
Para correr entre os canteiros e esconder minha tristeza

Que eu ainda sou bem moço para tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois senão chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço, sem ter visto a vida.

Cecília Meireles

Bjo.

Música: Ice do Camel.

quinta-feira, julho 15, 2004

Insônia


Tempestade interna Posted by Hello

A insônia

Olhar no escuro . As sombras ganham formas, dançam no pensamento e despertam algumas lembranças. Por vezes, o breu desenha um espelho, assinala um horizonte perdido no tempo, preenche um vazio...
O sono entrecortado. A noite invade o quarto, emoldurada na janela de ontem. Tantas inquietações brilham no céu de uma mente insone. Movimentos em vão. Viro na cama enquanto o pensamento permanece suspenso num ponto obscuro. Tento relaxar, mas o medo se prolonga no limite das impossibilidades.
Por que os problemas ganham projeções de extensões exacerbadas na ausência de claridade?
Novas sombras...
O tempo está pautado nos sons que ecoam nas paredes. O tempo que grita os instantes e me torna refém das horas... A engrenagem de um pequeno relógio, a pequena sombra na prateleira... Cada piscar, um ruído, uma lembrança... O coração palpita, tento em vão buscar a saliência dos sonhos. O olhar perdido em sombras, fragmentos cadenciados...
Levanto-me. Na janela, observo um mundo em silêncio, aberturas em preto-e-branco, vestígios de dia, fantasias de noite... Costuro o contexto com pequenos quadros... O relógio fragmenta as percepções. O tempo passa e o sono não vem...
Busco um livro. Quero esquecer de mim, refugiar-me na prosa do contemporâneo Fábio Campana. Sou seduzida por uma ilustração enigmática: um útero preso a um rabisco, talvez um amontoado de folhas secas... As possíveis interpretações de uma abstração. Concretizo as emoções, abrigo-me em certezas...
O título “Todo o sangue” deixa correr nas veias a essência. O início metafórico - insônia, revelações e peregrinações - escreve os versos de um poema distante...
“Houve um menino. Um quintal, uma cetra, o alvo e o seu vôo. Algazarra de pássaros e crianças. Primeira geografia. Territórios de descobertas. Movia-se como suserano dos atalhos, dos becos e dos campinhos.”
O chão das primeiras palavras cria a expectativa de uma longa jornada. A linguagem do autor se confunde com minhas lembranças. A leitura se transforma... Sinto-me alar com suas buscas. O escritor mergulha em sua biografia, compreende-se no olhar plural dos personagens. Sinto vertigem! Como lê-lo sem flutuar sobre o plano da angústia e do medo? Sem aterrissar nas sombras de um tempo marcado com emoções e pensamentos?
“Território de descobertas.” Talvez envelhecer seja apenas a ocultação de alguns solos, seja absolutamente a perda dos atalhos às “primeiras geografias”, ou apenas uma conjugação intempestiva...
Houve uma menina...
No primeiro capítulo, acompanho as espirais do insone escritor. Tento me reescrever, me interpretar... O menino amadurece em um rapaz sonhador e envelhece como um homem fantasiado em ouro, glória e poder. O personagem multiplica o significado nas possíveis metáforas. O que ocorreu à margem das folhas germinadas? Todo o sangue, a vida a pulsar no correr das horas, as inquietações estancadas nos veios da insônia, as dores de sobrevivências...
A atmosfera do sonho é iluminada no que resta da juventude. Quase um instante. Uma eternidade. Os gritos, as perguntas e a agonia, escritos na ficção, confundem-me com a marcação do relógio. Primeira pessoa. O tempo ecoa nos subterrâneos das emoções. A tênue linha separa a realidade das insônias. O passado bordado nas palavras, o presente retalhado nos bloqueios inconscientes, o futuro marcado pela lucidez dos atos...
Todo o medo. Guardo reticente a compreensão. Houve uma certeza que se desfez na escuridão...
“Houve um homem que se desgarrou do jovem e lançou o menino no limbo e refugiou-se na indiferença dos cínicos. Houve o sonho branco do esquecimento.”
A insônia de Fábio Campana abre uma nova janela. A trajetória iluminada de lembranças e as penumbras tantas vezes analisadas como novas sombras descerram a noite encarcerada nas indefinições. Os novos enigmas, as revelações, as peregrinações... Presencio o distanciamento da criança, compreendo a indignação do jovem cheio de ideais perdido nas inconstâncias do mundo, desfaço-me do homem vestido com a pele do algoz.
Houve a criança, restou o ar de uma mocidade resgatada no sonho, a resignação de uma “memória sem alma”...
“E exilou-se na escuridão.”
Tento dormir, ancorar nas palavras sem compreender a real profundidade dos mares em que me aventuro. Guardo o livro na cabeceira e apago a luz. Novas sombras me assustam. Mudaram a trajetória das horas. O relógio invertido cria um novo cenário: a menina adormece ao lado; a jovem tenta, em vão, encontrar-se no rosto talhado de anos; a mulher, refém das recordações, perde o sono...
Novas espirais... Não há exílio possível na atormentada escuridão. Sou as tantas personagens que brilham na ribalta esquecida. Reacendo a luz e amanheço acompanhada das rubras palavras de Fábio Campana. Em silêncio, acompanho suas confissões.
Olhar no escuro... A construção do retrato dimensionado nas vivências do autor serve de alicerce para o despertar insone do novo dia.

Helena Sut

Esse texto diz muito..

Bjo.

Música: Islands do King Crimson.

terça-feira, julho 13, 2004

Eternamente


Posted by Hello

Pode ser que um dia deixemos de nos falar.
Mas enquanto houver amizade, faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe.
Mas se a amizade permanecer, um do outro há de se lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos.
Mas, se formos amigos de verdade, a amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos.
Mas, se ainda sobrar amizade, nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe.

Mas com a amizade construiremos tudo novamente,
cada vez de forma diferente, sendo único e inesquecível,
cada momento que juntos viveremos e lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver sua vida.
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.

Albert Einstein.

Bjo.


Música: You learn about it do The Gathering.

Amor profundo


Posted by Hello

Pois é...
Às vezes um sentimento te surpreende porque surge de repente e se torna tão forte que nem você acredita que possa ser duradouro
.

Acaba te surpreendendo mais uma vez, quando se dá conta de que na verdade ele é.

Porém desencontros, indiferença e desinteresse acontecem e fazem com que você desista dele...

Quando já está conseguindo se curar e esquecer, eis que esse sentimento, inesperadamente, surge de novo para mexer com você.

O que fazer??

Não tenho resposta para isso.

Mas creio que não se deve fechar as portas agora.


Aguardar seria a melhor decisão...



Poizé...

Música: Thorn in my pride do Black Crowes.

sexta-feira, julho 09, 2004

Alone in a crowd


How can I feel abandoned even when the world surrounds me? Posted by Hello

Música: Misunderstood do Dream Theater.

sexta-feira, julho 02, 2004

O amor


Posted by Hello

O amor

O dinheiro muda de mãos,
as roupas mudam de corpo,
os móveis mudam de lugar,
as luzes se acendem e se apagam,
pessoas entram e saem
de carros e ônibus,
o tempo passa,
as coisas e pessoas nascem,
envelhecem,
adoecem,
adormecem,
morrem...

O amor é diferente,
ele permanece,
uma vez que foi seu,
sempre será,
pois ele é universal,
não está nos idiomas,
nas palavras
ou nas coisas,
está no olhar,
na boca,
na pele,
no toque,
no sorriso,
nas lágrimas...
Talvez seja por isso
que o amor funciona melhor
quando se está despido
de matéria e pudor.

Vih Garrido

Lindo esse poema da Vih..
Bjin..

Música: Bleeding heart grafitti do The Cult.
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Minha família

My kind of Spirit...


You are the elusive Night Spirit.
Your season is Winter, when the stars are bright and frost crystallizes the fallen leaves.
You are introspective, deep-thinking, and mysterious.
Everyone is intrigued and a little intimidated by you because you have an aura of otherworldliness.
You work in extremes, sometime happy, other times sad, but always creative and philosophical.
You are more concerned with the unseen, mystical, and metaphysical than the real world.
Night Spirits have a tendency to get lost in themselves and must be careful not to forget reality, but their imagination is limitless.