O professor Lipovetsky é dos mais relevantes e provocativos pensadores da cultura contemporânea. Analisando alguns dos fenômenos mais importantes das últimas décadas, ele esbarra em temas que normalmente passam longe dos olhos dos filósofos: marcas, luxo, consumismo, redes sociais e as consequências emocionais de um mundo pós-pós-moderno. Uma época que ele batizou como hipermoderna se manifesta mais claramente no que Lipovetsky chama de hiperconsumismo. Um termo que pode enganar... hiperconsumismo não significa exatamente consumo exagerado, compulsivo. É algo mais sutil, e mais relevante, do que frenesis em shopping centers. Trata-se de uma mudança crucial no padrão e nas motivações do consumo humano.
Culto às marcas
De acordo com Gilles, “a sociedade de consumo, comumente definida a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, era definida pelo consumo semicoletivo. A família comprava bens para o uso coletivo em casa. Uma TV, um carro, uma linha telefônica eram itens de desejo e status”. O que se vê a partir dos anos 70, mas que acelerou vertiginosamente a partir dos anos 80, sob a tutela americana de Ronald Reagan, foi o consumo dirigido quase que exclusivamente ao indivíduo. “Uma TV, um carro, um telefone por pessoa. E mais do que isso. Um culto às marcas e um desejo coletivo, que transcende classes sociais, por artigos e símbolos que denotem luxo.” Tudo, de acordo com Lipovetsky, para adular o indivíduo que volta suas paixões para si mesmo, seu ego e seu conforto, em um mundo de ideologias coletivas arruinadas.
"Vivemos em uma sociedade paradoxal,
Brasil, um laboratório exemplar
“Trocamos o status pelo consumo como uma experiência emocional. E não acho isso necessariamente ruim. O problema é que o consumo e o mercado se tornaram objetivos em si. E não existe felicidade dentro de um paradigma egoísta, individualista e fora das relações humanas”, vaticina diante da heterogênea plateia. Esportistas de ponta como o big rider Carlos Burle e o snowboarder Felipe Mota, empresários como Álvaro Coelho da Fonseca, João Paulo e Pedro Paulo Diniz, artistas como Fernanda Lima, publicitários como Marcelo Serpa, João Farkas e Fran Abreu, são apenas alguns nomes que lotaram o espaço Manioca. Ouvidos diversos e atentos às palavras do professor: “Vivemos em uma sociedade paradoxal, que não se equilibra facilmente entre o materialismo e a espiritualidade. Entre a ideia bem difundida de que a felicidade é uma conquista interna e a projeção de nossos desejos em objetos e marcas.”
E se é o paradoxo que melhor define os tempos hipermodernos, para Gilles o Brasil é um laboratório exemplar para suas teses. “A enorme distância entre as classes e uma cultura que congrega tantos elementos consumistas e espirituais, que se inseriu de modo muito acelerado na sociedade de consumo, faz do Brasil um lugar muito significativo, onde a análise que proponho está clara”, ele diz em resposta a uma pergunta da plateia no fim de sua exposição. E conclui sua complexa coleção de argumentos com uma posologia mezzo filosófica, mezzo espiritual. “Precisamos criar novas paixões para conter a paixão consumista. Oferecer objetivos para mobilizar emoções além do consumo. O mercado não é ruim. Mas o culto do mercado apenas é o demônio”, pregou o papa da hipermodernidade.
Fonte: Revista Trip
3 comentários:
Caro amigo
Não faço ideia de que parceria poderia ser.
Isso não é feito assim. As coisas devem acontecer naturalmente. Só indico um blog de que realmente goste.
E não tenho o menor interesse por futebol... :o)
Um abraço,
Claudia.
Estupendo esse filósofo, não o conhecia, contudo, me impressionou suas ideias e me fez lembrar um sociólogo, o qual já escrevi sobre, que é Zygmun Bauman.
Parabéns pelo blog.
Um abraço.
Os dois são fantásticos.
Obrigada pela visita.
Um abraço.
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