________________________________


Comecei a escrever no momento em que percebi que só pensar não mais me satisfazia.

Precisava transbordar todo aquele pensamento que só ao meu universo de idéias pertencia.

Hoje, escrevo por pura necessidade, por irresistível vício e por agradável teimosia.




Claudia Pinelli Rêgo Fernandes ®



quarta-feira, novembro 10, 2004

Indignação, por onde andas?


Procuram-se homens revoltados


“Precisa-se de homens que ainda não tenham perdido a capacidade de indignar-se, de rebelar-se”.

Certamente, você não encontrará um anúncio como esse, que serve como título e epígrafe a essa crônica, em cadernos de classificados de empregos dos jornais, ou mesmo em alguma agência de empregos por aí. Não. Não adianta vasculhar e sujar os dedos de tinta (como os jornais brasileiros soltam tinta, não!?), pois você jamais encontrará demanda por esse tipo de indivíduo. Homem ou mulher com esse perfil é muito raro hoje em dia: militante, revoltado, indignado, cidadão. Raro e indesejável, diga-se.

Nas ofertas de emprego dos classificados, a cada dia mais escassas, procuram por pessoas mais ou menos enquadradas, mais ou menos “institucionalizadas”, digamos assim. Essas ofertas dos classificados buscam pessoas – homens e mulheres, reitero – domesticadas, adestradas para servirem diligentemente aos interesses e valores das empresas, mesmo que isso, muitas vezes, e em muitos casos, signifique ir contra os seus próprios interesses e valores. De preferência devem ser indivíduos ambiciosos, os chamados arrivistas, prontos a pisar no pescoço de qualquer um para galgar um “degrauzinho” a mais na hierarquia da corporação – afinal, a cada degrau alcançado aumenta o suposto poder, visibilidade e remuneração.

Alguns desses indivíduos, já não falo dos ambiciosos vorazes, mas dos chamados homens ou trabalhadores “comuns”, quando conseguem um emprego, são sufocados, atormentados, quando não esmagados, pelas cotas de produção ou pela “cultura organizacional” das empresas, e agora até por uma tal de “empregabilidade” – veja bem! Muitos são até pessoas decentes, honestas, bem intencionadas, que apenas, como todos, necessitam ganhar o pão de cada dia, e que, sem muita opção ou poder de barganha, têm que vender o valor do seu trabalho a preço de ocasião. Ao preço da ocasião e da usura do patrão, nesse grande leilão com sinais trocados (leva quem paga menos) que é o tal “mercado” de trabalho. São pessoas que serão “espremidas”, moídas pelas engrenagens do capital, onde lhes será tirado todo o “sumo”, e, depois, apenas alguns anos depois, serão dispensadas, sem maiores explicações, quando só lhes restarem o bagaço de si mesmas.

Não. Não busco, para essa minha empresa, homens assim sensatos, “comuns”, plausíveis, enquadrados, subjugados. Busco os inconformados, os “santos” e “loucos”, os que não se deixam subjugar. Homens dotados de coragem e destemor. Busco os que têm compromisso inegociável e inalienável com a verdade e com a justiça e, acima de tudo, que tenham compromisso consigo mesmo, com seu valores, com a sua verdade, com a felicidade – a sua, mas também a do próximo.

Procuro homens que tenham tesão. Tesão para o amor, tesão para a vida. Homens que leiam livros e não apenas gastem os seus dias em frente a um aparelho de TV. Homens que tenham olhos para a vida, e não somente para seus próprios umbigos, e que assim possam enxergar o que acontece ao seu redor. Homens que sejam capazes de pensar com a própria cabeça e que, por isso, não saiam por aí como fantoches repetindo o que dizem as manchetes dos grandes jornais e seus articulistas, os tais (de)formadores de opinião. Procuro homens que não se deixam escravizar.

Homens como, eis aí um exemplo corriqueiro do nosso dia-a-dia, os jovens (alguns já jovens senhores na casa dos 30 anos) que resolveram recentemente, num ato pleno em simbolismo e significados, “rebatizar” a Avenida Jornalista Roberto Marinho (antiga Av. Água Espraiada), aqui na cidade de São Paulo, para Av. Vladimir Herzog – em homenagem ao jornalista assassinado nos porões da ditadura, possível exemplo de um homem revoltado.

Homens como aquele jovem chinês, cuja imagem correu o mundo, de braços abertos em frente a um tanque do exército vermelho na Praça da Paz Celestial, impedindo-lhe a marcha, impedindo assim, por um mero instante, fugaz que fosse, mas que viria a simbolizar e a se tornar um “todo o sempre”, a marcha do totalitarismo. Como, aqui no Brasil dos fodidos, o motorista de trator que se negou a obedecer as ordens das “autoridades” que lhe mandavam derrubar o barraco de uma família pobre numa invasão, e por isso foi preso.

Homens como Chico Mendes, Marighela, JC, Gandhi, Che Guevara e tantos outros. Precisa-se de homens que façam a diferença. Homens que sejam capazes de dar a vida por uma causa, um ideal. Você seria capaz de dar a própria vida em nome de uma causa? Qual a sua causa? Em nome de que você luta, soldado?

Preciso de homens assim para esse meu/nosso empreendimento. E esse empreendimento, devo fazer a ressalva, não promete participação nos lucros, plano de carreira, assistência médica ou aposentadoria condigna.

Preciso de homens aguerridos, guerreiros, que abracem com fervor a causa dos intrépidos e dos justos. Homens que venham integrar esse exército que, silencioso, luta todos os dias suas pequenas-grandes batalhas. Homens que estejam seguros de que lutam pela boa causa e em nome disso empenham suas vidas: um outro mundo é possível.

Por favor, enviem os seus currículos.

Lula Miranda




Esse texto é um consolo para minha personalidade inquieta, indignada, revoltada, etc...

Como eu digo sempre, não sou assim para provar nada para ninguém. É uma necessidade quase física que eu sinto de não trair minha consciência. Se for diferente, não estarei sendo eu mesma, e isso é a pior traição que existe.

Trair uma outra pessoa não é nada, comparado a uma traição a si próprio!

É fato que acabo não agradando a muita gente por ter esse jeito, porque as pessoas sempre irão preferir os que só lhes agradam aos que falam a verdade, mas esse problema, definitivamente, não é meu.
O meu é ser eu, e isso já dá trabalho suficiente.

Costumo falar uma coisa que eu mesma bolei num dia de ócio (criativo?) e que mantém uma certo nexo com a citação inicial do texto:

"Pode se considerar vivo aquele que ainda mantém a capacidade de se surpreender com as coisas boas e se indignar com as coisas ruins."

Ah, já ia me esquecendo de um comentário definitivo sobre o texto...

Para onde devo mandar o currículo mesmo? :o)



Bjo.



Claudia Pinelli Fernandes ®




Música: Revolution do The Cult.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oii Claudia!!
"Para onde devo mandar o currículo mesmo??? :o)"

Me deu até um gelo na barriga na hora que eu li isso.!! to quase me formando..!! e me veio mais perguntas pra cabeça agora...

será que serei apenas uma peça que contrubui pra "lindo quadro social" rs...

nem..!! rs vamo sair voando por ai..!! e dar muita risada e fazer muita gente feliz e ser feliz sem se dar conta ...
bora ??!! ; )

Anônimo disse...

Bora, Cassinho...
Só se for agora...:o)
Bjin..

Related Posts with Thumbnails

Minha família

My kind of Spirit...


You are the elusive Night Spirit.
Your season is Winter, when the stars are bright and frost crystallizes the fallen leaves.
You are introspective, deep-thinking, and mysterious.
Everyone is intrigued and a little intimidated by you because you have an aura of otherworldliness.
You work in extremes, sometime happy, other times sad, but always creative and philosophical.
You are more concerned with the unseen, mystical, and metaphysical than the real world.
Night Spirits have a tendency to get lost in themselves and must be careful not to forget reality, but their imagination is limitless.