A 2ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul leva a oito capitais brasileiras(curiosamente Salvador não faz parte das oito!), entre 4 e 16 de dezembro de 2007, uma nova reflexão sobre o cenário geral, as encruzilhadas, dilemas, dores e esperanças que envolvem o sonho da liberdade e os imperativos de construção da igualdade em Nuestra América, onde a solidariedade desponta como novo nome da fraternidade proclamada pelos revolucionários de 1789.
Pela segunda vez, começando a consolidar uma série que deverá firmar-se ao longo dos anos, o casamento feliz entre a magia do cinema e as utopias dos Direitos Humanos oferece ao Brasil um caleidoscópio de povos, grupos, segmentos, cores, sons, falas, gemidos, denúncias, clamores e risos que fotografam a alma latino-americana.
De quatro capitais em dezembro de 2006, pulamos agora para oito: Brasília, Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Conseguiremos alcançar 16 capitais em 2008? Todas elas em 2009? Quantas cidades brasileiras nos anos seguintes? O desafio está lançado. O governo do Presidente Lula cuidará de cumprir sua parte nesse esforço que precisa seguir adiante nos anos seguintes.
Sob a curadoria do cineasta Giba Assis Brasil, foram selecionadas produções sul-americanas que trazem closes sobre os muitos temas contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Esse documento histórico, incomparável como síntese de um projeto civilizador para toda a humanidade, faz aniversário em 10 de dezembro e completará 60 anos em 2008.
De 1948 até hoje, não se pode pretender que seus 30 artigos tenham concretizado as metas lançadas para se construir um mundo sem guerras, assentado na justiça. Mas seu velho e belo texto persiste como serena voz de autoridade, fixando exigências para que a paz tenha finalmente alguma chance no planeta, inspiradas na formulação poética de seu artigo primeiro: “livres e iguais em dignidade e direitos nascem todos os homens”.
Por meio do cinema é possível alargar a discussão sobre a importância da diversidade, do pluralismo, da solidariedade e da tolerância. Enfrentamos, assim, os bloqueios que ainda prendem a idéia de Direitos Humanos, de forma manipulada, a uma interpretação negativa que acusa seus defensores, na mais branda das versões, de serem meros aliados dos presos ou dos jovens em conflito com a lei.
A seleção de filmes destaca o direito à diferença como riqueza da condição humana, não um limite ou algema. Gênero, cor da pele, diversidade sexual, idade, crenças, tradições culturais, classe social, idéias políticas, vulnerabilidades, limitações e deficiências: eis as cores múltiplas do grande arco-íris chamado Direitos Humanos. As câmeras, as telas e as narrativas da Mostra demonstram esse fato com nitidez.
Todos os filmes, inclusive os brasileiros, terão legendas para incluir as pessoas que não ouvem. Haverá sessões orientadas a deficientes visuais. Grupos vinculados às distintas militâncias serão convidados a assistirem juntos às produções relacionadas com suas atividades: crianças e adolescentes, memória da repressão política, direitos indígenas, igualdade racial, conflitos rurais, segmento GLBT, pessoas com deficiência, idosos, sistema prisional, trabalho escravo, sem-teto, luta pela terra, combate à fome, militância cultural, muitos outros.
A mostra é inteiramente gratuita, buscando democratizar o acesso à cultura e fazendo do próprio evento uma celebração concreta dos Direitos Humanos.
Para os debates foram convidados representantes de diversos países da América do Sul e regiões brasileiras, entre cineastas, intelectuais e ativistas, visando a enriquecer e arejar a discussão em torno das questões suscitadas pelos filmes.
A 2ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul é uma realização da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, com produção da Cinemateca Brasileira, ligada ao Ministério da Cultura, e do SESC SP. Conta ainda com o apoio do Ministério das Relações Exteriores e com importante patrocínio da Petrobras.
Ministro Paulo Vannuchi Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Texto retirado do Site oficial
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Vale lembrar que tudo isso, todos esses filmes, toda essa discussão, toda essa porta aberta para a cultura, para o conhecimento, para uma nova percepção de mundo e, conseqüentemente, para o crescimento pessoal é de graça. De graça! Mas mesmo assim, nós de Salvador, por exemplo, não teremos esse prazer, ou mesmo o direito de nos deliciar com cultura e nos embebedar com arte e cidadania.
Fico me perguntando o porquê disso. Por que capitais menores como Belém ou Fortaleza(que bom para elas!) terão a mostra e Salvador não? Alguém saberia me esclarecer como é feita essa escolha? São inclusões aleatórias, leia-se políticas? Ou as cidades têm alguma participação com investimentos ou algum tipo de apoio?
Pergunto isso porque se for o primeiro caso o motivo da ausência de Salvador nessa lista, minha indignação vai para a organização, para os patrocinadores, para Giba Assis Brasil, para o Ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, para o Ministro da Cultura, para Lula e junto com ela mando um apelo veemente para que na próxima edição todos eles reavaliem essa relação de cidades. Salvador, meus caros! Berço da cultura, berço do Brasil!
Se for o segundo, minha crítica vai para o prefeito da cidade que ao demonstrar total desinformação e insensibilidade ou não se dar ao trabalho de perceber que uma mostra de cinema em que o tema central é o tema dos Direitos Humanos e a cujas obras qualquer pessoa pode ter acesso gratuitamente é de extrema importância para uma cidade como Salvador, cantada em verso e prosa como uma cidade da cultura, mas que carece de eventos, de propostas ricas e interessantes como essa, perdeu a oportunidade de tentar reverter a péssima imagem que vem construindo na (con)gestão da cidade.
É isso.
Claudia Fernandes
Nota do editor(eu): Fiquei sabendo que os filmes foram veiculados aqui na Sala Walter da Silveira, mas a divulgação, inexplicavelmente, seria quase nula se não fosse alguns raros sites, como o Aldeia Nagô. Mas ainda fico a me perguntar, por que tão pouca divulgação? Será que o grande público não é bem vindo a um evento como esse, que debate os Direitos Humanos?
E mesmo assim, essa Mostra não se resume aos filmes. Há os debates, que, ao final, podem ser mais educativos do que as películas.
"Há algum interesse próprio por trás de toda amizade.
Não há amizade sem interesses próprios
Isto é uma amarga verdade."
Chanakya (Indian politician)
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