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Comecei a escrever no momento em que percebi que só pensar não mais me satisfazia.

Precisava transbordar todo aquele pensamento que só ao meu universo de idéias pertencia.

Hoje, escrevo por pura necessidade, por irresistível vício e por agradável teimosia.




Claudia Pinelli Rêgo Fernandes ®



quarta-feira, junho 21, 2006

O Natural e o Excepcional




Escândalo seletivo - Luis Fernando Veríssimo

Em poucos minutos, uma cabeça jovem vai se deteriorando. Os cabelos embranquecem e caem, a pele fica enrugada e se solta do osso, e surge a caveira descarnada. Isto é uma cena de horror.

A mesma coisa acontece, mas em muitos anos em vez de em poucos minutos. Exatamente o mesmo processo, com uma única diferença: a sua duração. Isto se chama vida. O primeiro caso é excepcional e — seja ele obra do Demônio ou do departamento de efeitos especiais — aterrorizante. O segundo caso é natural, acontece com todos nós. Seu terror é diluído pelo tempo e atenuado pelo corriqueiro.

Um ato de violência escandaliza, uma rotina de violência banaliza. A rotina da miséria brasileira acaba se integrando no cotidiano, funde-se com a paisagem e desaparece no nosso relativismo moral. É lamentável, e lamentada em todos os discursos e programas de governo, mas não é aterrorizante, pois quem pode viver em estado permanente de horror? E, no entanto, só o que diferencia a violência de uma invasão de terras da violência constante, rotineira, banalizada que a situação fundiária do país impõe aos sem-terras é o tempo.

Uma é uma quebra de normalidade, a outra é a normalidade. As duas são reprováveis, mas a segunda é absolvida pela indiferença. Não tem o mesmo efeito espetacular, o mesmo horror concentrado.

Isto não é uma justificativa para atos de violência como alguns praticados pelos que lutam pela reforma agrária, mesmo porque a violência sempre acaba favorecendo a reação. É só um comentário sobre o escândalo seletivo de quem demoniza os sem-terras mas não se horroriza com a violência diária, antiga, arraigada nos seus costumes e valores, praticada pela sociedade mais injusta do mundo. Ou só se horroriza com a retribuição.



Esse texto, tão pequeno no tamanho, é, na minha modesta opinião, enorme no significado e mensagem que transmite. Escrito de forma concisa, diz tudo que se propõe a dizer. Sem firulas.
Aliás falar isso de Luiz Fernando Veríssimo é buscar o lugar comum.
Por isso, resolvi postar, para poder compartilhar algo consciente e sem hipocrisias casuístas.
Espero que quem ler esse texto, compreenda a exata dimensão do que foi escrito.


Bjo.



Música: Drive do The Cars, na voz de Ziggy Marley.

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Minha família

My kind of Spirit...


You are the elusive Night Spirit.
Your season is Winter, when the stars are bright and frost crystallizes the fallen leaves.
You are introspective, deep-thinking, and mysterious.
Everyone is intrigued and a little intimidated by you because you have an aura of otherworldliness.
You work in extremes, sometime happy, other times sad, but always creative and philosophical.
You are more concerned with the unseen, mystical, and metaphysical than the real world.
Night Spirits have a tendency to get lost in themselves and must be careful not to forget reality, but their imagination is limitless.